Mensagem de D. António Couto para a Quaresma 2016
A MISERICÓRDIA, SIM, A MISERICÓRDIA
1. Na Bula de proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, o Papa Francisco apela a toda a Igreja para que «a Quaresma deste Ano Jubilar seja vivida mais intensamente como tempo forte para celebrar e experimentar a misericórdia de Deus» (O Rosto da Misericórdia, n.º 17). Simultaneamente, o Papa pede que, durante a Quaresma, todos nos ponhamos mais à escuta qualificada da Palavra de Deus, frequentando as Escrituras, valorizando a iniciativa «24 horas para o Senhor» (dias 4 e 5 de Março), e «pondo novamente o Sacramento da Reconciliação no centro» (O Rosto da Misericórdia, n.º 17).
2. Na sua Mensagem para a Quaresma, o Papa volta a insistir nestas temáticas, propondo ainda a figura de Maria como ícone da Igreja que o Papa quer evangelizadora, porque evangelizada. Só uma Igreja com o Evangelho nas entranhas e no coração pode ser verdadeiramente evangelizadora. A figura modelar de Maria ocupa o primeiro ponto da Mensagem do Papa. O segundo ponto faz-nos meditar e ver a aliança de Deus connosco como uma história de misericórdia, deixando no terceiro ponto um apelo à experimentação das Obras de Misericórdia.
3. Na Nota Pastoral que entreguei à nossa Diocese acerca da vivência do Ano da Misericórdia, datada de 8 de Dezembro passado, lembrava a todos os meus queridos diocesanos, irmãos e irmãs que Deus me deu, que um ano é muito tempo, é pouco tempo. A Porta Santa que agora se abre fechar-se-á simbolicamente após um ano, para nos dizer que, não obstante o tempo, é urgente a conversão. «Converter-se» significa «regressar» a Deus; e «regressar» a Deus significa «responder» a Deus. Que seja, então, caríssimos irmãos e irmãs, um ano intenso de intensa experiência de Deus, através da escuta qualificada da sua Palavra, da frequência dos Sacramentos, sobretudo do Sacramento da Reconciliação, e da multiplicação das obras de Caridade e de Misericórdia.
4. Entrar em cheio na avenida florida e comovida da misericórdia e do perdão começa sempre pela experiência grande e única de sermos perdoados por Deus, pois só Ele é «o Senhor das misericórdias e dos perdões» (Daniel 9,9). Mas, porque não podemos guardar a riqueza da misericórdia e do perdão só para nós, devemos continuar a construção desta avenida comovida e maravilhosa, fazendo nós também o exercício salutar de partilhar a misericórdia e o perdão uns com os outros, nos caminhos concretos do nosso dia-a-dia.
5. E é assim, com «um coração que vê» bem, belo e bom, em sintonia com o coração de Deus e de Maria, que compreenderemos sempre e cada vez melhor que o olhar suplicante e o rosto enrugado de cada homem e de cada mulher que sofre, de cada criança abandonada e triste, é a verdadeira «Cátedra» de onde Deus nos ensina e ordena a Misericórdia, associando-nos à sua própria Misericórdia.
6. Façamos, amados irmãos e irmãs, do tempo da Quaresma um tempo de diferença, e não de indiferença. Dilatemos as cordas do nosso coração até às periferias do mundo, e que o nosso olhar seja de Misericórdia para os nossos irmãos de perto e de longe. Façamos um exercício de verdade. Despojemo-nos, não apenas do que nos sobra, mas também do que nos faz falta. Dar o que sobra não tem a marca de Deus. Jesus não nos deu coisas, algumas coisas para o efeito retiradas da algibeira, mas deu por nós a sua vida inteira. Dar-nos uns aos outros e dar com alegria deve ser, para os discípulos de Jesus, a forma, não excecional, mas normal, quotidiana, de viver (Atos 20,35; cf. Tobias 4,16). Como em anos anteriores, peço aos meus irmãos e irmãs das 223 paróquias da nossa Diocese de Lamego para abrirmos o nosso coração a todos os que sofrem aqui perto e lá longe.
7. Neste sentido, vamos destinar uma parte da nossa esmola quaresmal para o Fundo Solidário Diocesano, para aliviar as dores dos nossos irmãos e irmãs de perto que precisam da nossa ajuda, e são cada vez mais. Olhando para os nossos irmãos e irmãs de longe, vamos destinar outra parte do esforço da nossa caridade para levar um pequeno gesto de carinho aos nossos irmãos e irmãs atingidos pela lepra. A Igreja Missionária tem uma longa tradição de assistência aos doentes de lepra, tantas vezes abandonados até pelos próprios familiares. Lembro que contraem a doença da lepra, segundo dados da OMS, em cada ano que passa, para cima de 220.000 pessoas, sobretudo crianças. A Igreja Missionária oferece cuidados médicos e assistência espiritual a 611 leprosarias espalhadas pelos cinco continentes, desde a Ásia (328), à África (201), América (59), Europa (22) e Oceânia (1). O fruto da nossa caridade será entregue à Congregação para a Evangelização dos Povos, que o fará chegar ao terreno através das Obras Missionárias Pontifícias, que é um dos serviços integrados nesta Congregação. Esta finalidade da nossa Renúncia ou Caridade Quaresmal será anunciada, como de costume, em todas as Igrejas da nossa Diocese no Domingo I da Quaresma, realizando-se a Coleta no Domingo de Ramos na Paixão do Senhor.
8. Com a ternura de Jesus Cristo, saúdo, no início desta caminhada quaresmal de 2016, Ano da Misericórdia, todas as crianças, jovens, adultos e idosos, catequistas, acólitos, leitores, salmistas, membros dos grupos corais, ministros da comunhão, membros dos conselhos económicos e pastorais, membros de todas as associações e movimentos, departamentos e serviços, todos os nossos seminaristas, todos os consagrados, todos os diáconos e sacerdotes que habitam e servem a nossa Diocese de Lamego ou estão ao serviço de outras Igrejas. Saúdo com particular afeto todos os doentes, carenciados e desempregados, e as famílias que atravessam dificuldades. Uma saudação de particular carinho a todos aqueles que tiveram de sair da sua e da nossa terra, vivendo a dura condição de emigrantes.
9. Que o Deus da Paz e das Misericórdias nos conceda, ao longo deste ano da Misericórdia, uma abundante chuva de Graça e de Ternura, e que Maria, nossa Mãe, Senhora do SIM, seja nossa carinhosa Medianeira.
Lamego, 10 de fevereiro de 2016, Quarta-feira de Cinzas
Na certeza da minha oração e comunhão convosco, a todos vos abraça o vosso bispo e irmão,
+ António.