Férias e o desafio para parar

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Nesta altura do ano, todos nós experimentamos o cansaço. Sabemos o que é o cansaço no final de um ano de trabalho, deste ciclo escolar que todos conhecemos: um esvaziamento, uma perda de força, da capacidade de estar presente na vida, na história, na nossa missão.

O cansaço não é apenas individual, mas é também o cansaço da nossa cultura, que fez deste sentimento uma espécie de descrição global do que vivemos. Lembro-me de uma poesia de Fernando Pessoa onde ele diz: "Estou cansado, de que estou cansado não sei, ... pois o cansaço fica na mesma". No coração do homem contemporâneo esse cansaço é uma sua identidade: somos homens cansados, vivemos numa cultura onde o cansaço é a marca.

Jesus aborda esta situação vital, de todos nós, dizendo: "Vinde a mim". É interessante porque hoje, quando pensamos nas férias, por exemplo, - para quem as pode ter - ouvimos falar delas como uma fuga ou como uma espécie de parênteses na vida, como uma busca não pela vida ordinária, mas pela vida extraordinária, para ter uma experiência, para conhecer outros lugares, para estar em outros contextos.

Pelo contrário, Jesus pensa no alívio não como uma fuga, mas como uma relação: "Vinde a mim". E verdadeiramente o que cura não só o cansaço físico mas espiritual, que nós experimentamos, é uma relação com Jesus, tentar aprofundar esta relação, ir ter com ele, dar-lhe tempo, dar-lhe oportunidades, escutar melhor as suas palavras, ver as coisas à sua maneira, capturá-lo na sua extraordinária proximidade, vê-lo no rosto dos pobres, dos idosos, das vítimas da história, sentir que ele está verdadeiramente próximo de cada um de nós.

Este tempo é, portanto, um grande desafio para experimentar não a tentação da fuga, para experimentar a própria zona de conforto, mas sim um tempo para experimentar o poder da relação. "Vinde a mim que Eu hei de aliviar-vos": o alívio é um dom, não é uma conquista nossa, é um dom que recebemos gratuitamente na relação. Por esta razão, que se abra em nós um tempo de intensidade, de intimidade, de relacionamento com Jesus.
Mais um desafio que Jesus nos oferece é provar as coisas que devemos aprender, porque a vida espiritual não nasce connosco. Tertuliano disse: "Nós não nascemos cristãos, tornamo-nos cristãos". Tantas vezes portanto nos confiamos a uma espécie de automatismo, desejamos uma vida espiritual forte e intensa, mas pensamos que ela virá, e pronto. Não: aprende-se, procura-se, é preciso conhecer o valor da aprendizagem.
A vida espiritual precisa que superemos o analfabetismo espiritual, a nossa ignorância, a nossa distância.

 

Tolentino Mendonça, Cardeal
(Texto segmentado)